O debate em torno da democratização da comunicação acaba de ganhar um
reforço importante. Uma pesquisa sobre o tema promovida pela Fundação
Perseu Abramo permite agora discutir o papel da mídia em cima de dados
concretos. Sabia-se, por exemplo, que a TV aberta – apesar do avanço da
internet – continuava sendo o meio mais utilizado pelos brasileiros para
informação e entretenimento.
Agora temos números: 94% fazem isso, 82%
deles todos os dias.
À frente da internet e dos jornais, empatados em 43%, está o rádio, com
79% (69,2% ouvem diariamente). Presente nas regiões mais remotas do
país e nas grandes cidades, sua voz é ouvida por ribeirinhos na Amazônia
e pelos motoristas presos nos congestionamentos urbanos, com uma força
político-eleitoral que ainda está para ser medida.
A pesquisa teve caráter nacional e ouviu 2.400 pessoas, com margem de
erro que varia de dois a cinco pontos percentuais. Soube-se por ela que
57% dos brasileiros leem jornais, mas quase a metade (46,2%) só lê o do
bairro ou da cidade em que mora. Muito atrás aparece o segundo jornal
mais lido: o Extra, com 5,9%. Os jornalões – Folha de S.Paulo (4,5%), O Globo (3,1%) e O Estado de S.Paulo
(3%), com leitores concentrados no Sudeste – revelam não ter a projeção
nacional por eles apregoada. Entre as revistas o dado é preocupante:
76% leem esse tipo de publicação, dos quais 50,2%, a Veja.
Conhecendo a linha editorial da revista fica clara a necessidade de uma
alternativa capaz de contrabalançar os efeitos negativos que ela causa à
sociedade.
Afirmação enganosa
Na internet, o Facebook (38,4%) e o Twitter (25,5%) são os preferidos
dos brasileiros. Os portais de notícias – Globo (16,7%), UOL (12,6%),
Terra (7,3%) – vêm depois: seis em cada dez entrevistados dizem buscar
informações e notícias nesses sites, reforçando a convicção de que a
internet é responsável pelo declínio dos jornais impressos.
Quanto ao conteúdo, não há uma percepção de que os meios de comunicação, quando tratam de política e economia, defendam os interesses da população. Só 7,8% acreditam nisso. Os demais dizem que eles defendem os interesses dos próprios donos (34,9%), dos que têm mais dinheiro (31,5%) e dos políticos (20,6%).
Quanto ao conteúdo, não há uma percepção de que os meios de comunicação, quando tratam de política e economia, defendam os interesses da população. Só 7,8% acreditam nisso. Os demais dizem que eles defendem os interesses dos próprios donos (34,9%), dos que têm mais dinheiro (31,5%) e dos políticos (20,6%).
Em relação à TV, a pesquisa concretiza o que os estudiosos já inferiam.
A maioria dos brasileiros (71,2%) não sabe que as emissoras de rádio e
TV são concessões públicas. E quando passam a ser perguntados sobre o
que veem na tela mostram uma clareza maior: 43% dizem não se ver
representados na TV e 25% se consideram retratados negativamente. Grande
parte avalia às vezes ou quase sempre como desrespeitoso o tratamento
dado à mulher (64%), aos nordestinos (63%) e aos negros (66%) nos
programas das emissoras.
O remédio está na regulação dos meios. Os entrevistados concordaram com
essa necessidade, mostrando que a campanha sistemática da mídia,
comparando regulação à censura, surte pouco efeito. Deveria haver mais
regras para o funcionamento das TVs para 71%. E na opinião de 77,2%
deveriam ser estabelecidas e aplicadas por um órgão ou conselho
representativo da sociedade, como ocorre em vários países democráticos.
A maioria (entre 50,9% e 65,8%) se manifestou contra a veiculação de palavrões, a exposição gratuita do corpo da mulher, de imagens de cadáveres, de crueldade com animais, de nudez e sexo, violência e morte e de uso de drogas. Também se mostrou contrária a cenas de violência e de humilhação de gays e lésbicas, assim como ao humor que ridiculariza as pessoas. E mais: 88,1% não querem propaganda de bebida alcoólica na TV.
A maioria (entre 50,9% e 65,8%) se manifestou contra a veiculação de palavrões, a exposição gratuita do corpo da mulher, de imagens de cadáveres, de crueldade com animais, de nudez e sexo, violência e morte e de uso de drogas. Também se mostrou contrária a cenas de violência e de humilhação de gays e lésbicas, assim como ao humor que ridiculariza as pessoas. E mais: 88,1% não querem propaganda de bebida alcoólica na TV.
São dados que não aparecem no Ibope e não têm nada a ver com audiência.
A pesquisa revela como é enganosa a afirmação de que a TV mostra o que
as pessoas querem ver. Veem, na verdade, por falta de opção ou para não
deixar a casa silenciosa.
Por Laurindo Lalo Leal Filho
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Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.