A implantação do rádio digital no Brasil parece estar longe de uma
solução. O Ministério das Comunicações pretende fazer, ainda neste ano,
mais uma bateria de testes nas faixas de FM e de radiodifusão
comunitária com o sistema digital, mas o início e a duração desse
trabalho ainda não foram definidos.
Os primeiros testes com a tecnologia digital, feitos com os padrões DRM
(europeu) e HD (norte-americano), não alcançaram resultados
satisfatórios e a expectativa de definição de um desses modelos, até o
fim do ano passado, foi frustrada.
A digitalização das rádios brasileiras foi discutida hoje (17/09) em
audiência pública da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado. O
problema , segundo o ministério, é que, para que esses testes sejam
feitos, as emissoras precisam atender a uma série de critérios e
parâmetros, mas, até agora, as que se candidataram a participar do
processo não se encaixam nos requisitos. As que reúnem as condições
exigidas negam-se, porém, a colaborar.
Apesar das dificuldades, o Ministério das Comunicações espera obter
melhores resultados com os novos testes e nega que esteja havendo
boicote dos radiodifusores. Segundo o diretor de Acompanhamento de
Avaliação do Ministério das Comunicações, Octavio Pierant, essa
preocupação é saudável, razoável e natural, tendo em vista o resultado
dos primeiros testes. "É natural que as emissoras, verificando que há
problemas de cobertura, questionem ou fiquem em dúvida sobre os próximos
passos a serem trilhados”, disse ele.
De acordo com Pieranti, muitos empresários questionam a real
necessidade de um sistema de rádio digital. Entre as grandes
preocupações dos radiodifusores está a cobertura que pode ser atingida.
As empresas consideram a cobertura similar ou melhor que a oferecida
hoje no padrão analógico a principal condição para a adoção de uma nova
tecnologia.
Na audiência pública de hoje na Comissão de Ciência e Tecnologia do
Senado, que discutiu a digitalização das rádios no Brasil, os
representantes das empresas cobraram também um modelo de negócios para a
tecnologia digital no setor.
“Ainda não encontramos um modelo de negócios adequado para a radio
digital. Até o momento, sabemos que o custo de implantação, que pode
chegar a R$250 mil, é muito elevado, mas não sabemos se o radiodifusor,
principalmente o da cidade pequena, vai ter condição de investir de modo
a não quebrar. O principal desafio é fazer com que o radiodifusor tenha
renda, tenha receita com a implantação do rádio digital”, disse o
represente da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel),
André Felipe Seixas.
Para o chefe de gabinete da Diretoria-Geral da Empresa Brasil
de Comunicação (EBC), Braúlio Ribeiro, a adoção do modelo de rádio
digital no Brasil ainda é uma dúvida. Ribeiro destacou que o
rádio digital não pode ser apenas uma mudança na qualidade de áudio.
“Isso é muito pouco para uma mudança tecnológica. Queremos ver
implementados serviços diferenciados, como a possibilidade de
transmissão de imagens junto com o áudio e informações complementares de
textos. É isso que vai trazer incremento a serviço da população”,
afirmou.
Bráulio Ribeiro ressaltou que a discussão não deve deixar de lado uma
política industrial adequada. “De nada adianta ter uma super-rádio
digital, se as pessoas não conseguirem comprar o receptor, que tem que
ser vendido a custos baixos.”
Fonte: EBC
Edição: Nádia Franco